sábado, 2 de janeiro de 2010

"DA ILUSÃO E DA REALIDADE: ALGUMAS DIVAGAÇÕES!" por Isabel Rosete

Parecer, parecer-ser, o Ser que parece e aparece... Não se trata de um jogo de palavras. A questão é, a um tempo, ontológica e gnoseológico. Por isso, pergunta-se: qual o ponto nodal da passagem do parecer-ser para o Ser, o que realmente é, e aparece, de facto, porque que é?
E, ainda: como se delimitam as fronteiras – se é que é possível tal delimitação! entre a Ilusão (o que nos parece que seja, com ou sem fundamento lógico/ontológico credível) e a Realidade que a fundamenta (aquilo que é, de facto, independentemente de ser ou não percepcionado), que é por ela ocultada?
A Ilusão é, tão-só, uma distorção da Realidade, ou melhor, a deformação/alteração de uma certa realidade, que resulta de uma visão específica sobre um dado objecto/acontecimento ou, até mesmo, Pensamento. Sabemos que há pensamentos que não passam de uma pura ilusão, ou seja: de uma dimensão virtual forjada pela faculdade da Imaginação.
A ilusão é o véu. Por vezes, mais opaco. Por vezes, mais transparente. A película que encobre, total ou parcialmente, a essência da coisa tomada em si mesma, no que ela é. Continuamos, com Platão, nessa dualidade irresolúvel entre o modelo e a cópia, entre o inteligível e o sensível, entre a realidade e a aparência, entre o Ser e o não-Ser.
Onde começa e termina a ilusão? Onde começa e termina isso a que chamamos de realidade? As divisas são assaz ténues. Por vezes, indiscerníveis.
Afinal a ilusão, de um outro ponto de vista, não passa de uma projecção específica da realidade, quiçá mesmo, de uma interpretação marcada pela especificidade do olhar, da escuta, do sentir, do cheirar ou do tactear de um sujeito frente a um determinado objecto.
“O Ser é”, já dizia Parménides. E só porque é, pode ser pensado. Mas, os pensamentos não se fundam na pura objectividade, na imparcialidade da subjectividade. Trata-se sempre de um sujeito, com uma mundividência determinada, que os produz, naturalmente presente e influenciatória em cada acto de conhecimento.
Toda a forma de observância do Mundo é subjectivizada. E a ilusão torna-se uma dimensão relativa do conhecimento, que varia, portanto, de sujeito para sujeito. Somos seres de estímulos e de respostas envolvidos em contextos diferenciais. Sujeitos diferentes podem apresentar tanto respostas idênticas, como respostas completamente dissemelhantes perante um estímulo análogo, mesmo que se encontrem em circunstâncias idênticas. De igual modo, o mesmo sujeito receptor do mesmo estímulo, pode responder de formas dissemelhantes em circunstâncias diferentes.
Se somos seres de circunstâncias (parece mais que provado!), formaremos de modos díspares os nossos comportamentos e processos mentais que os acompanham, sem que deles tenhamos consciência absoluta, assim como as nossas visões-de-mundos.
Por esta ordem de razões, entre outras que poderia apresentar, talvez se possa inferir, grosso modo, que existem tantas ilusões e tantas realidades, quantos os sujeitos que a REALIDADE percepcionam.
É a clássica e ainda pertinente questão da objectividade/subjectividade do conhecimento, à qual outras se associam: o que é a realidade? A realidade existe em si mesma e por si mesma independentemente do sujeito cognoscente? Kant responderia que “não” (do ponto de vista do “fenómeno”). Já Platão responder-nos-ia, segundo a tese desenvolvida nos livros V-VII da Republica, com um “sim” absolutamente assertório.

Isabel Rosete

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