sexta-feira, 19 de setembro de 2008

« A PAIXÃO DE CRISTO E O NATAL»
por Isabel Rosete

Não há propriamente data determinada nem para o nascer, nem para o morrer de Cristo – essa “ex-traordinária” e iluminada figura que a História nos doou, por vontade de Deus – para além daquelas que são convencionadas no calendário.
Não obstante estarmos bem perto de comemorar o nascimento de Cristo e, por extensão, a paz, a solidariedade, a luz, a verdade, o bem, o amor, a amizade... não nos podemos esquecer que o Mundo continua a sofrer, a ser martirizado e crucificado como Cristo o foi, um dia.
Iludir a realidade pelas comemorações convencionais não faz a humanidade crescer, pensar, reflectir, sobre esse sofrimento, físico e psíquico, de que ela mesma é vitima, a partir das suas próprias mãos, ensanguentadas, amiúde, pelo sangue jorrado dos corpos inocentes.
Enquanto uns estão à mesa, na noite de ceia, a confraternizar com as suas famílias, em paz e alegria, deliciando-se com o mais requintado dos manjares, trocando os mais caros e belos presentes, outros morrem de subnutrição, são vítimas de balas perdidas, da má fé, das guerras injustas, da violência gratuita.
Claro que este texto, que escrevi a propósito de uma discussão com amigo meu sobre o filme de Gibson é, naturalmente, provocatório, propositadamente, provocatório, se nos centramos, apenas e redutoramente, no contexto natalício que já estamos vivendo.
Porém, o objectivo é mesmo esse: abanar as consciências, incitar as mentes à mais profunda reflexão, fazer renascer o espírito crítico, por detrás de todas as máscaras ou de todos os discursos demagógicos.
O sofrimento, a maldade, a violência, a crueldade... não acabam pelo simples facto do Natal estar próximo. Lamentavelmente continuam, embora camufladamente.
Recuso-me a ludibriar a realidade; recuso-me a compactuar com a hipocrisia dos homens, que só se lembram que há mendicantes, crianças e velhos, moribundos e desamparados, povos em guerra…, quando o Natal é, oficialmente, comemorado.
A memória dos homens deve deixar de ser curta… a memória dos homens não deve apenas ser testada, assim como a sua humanidade ou “pseudo-humanidade”, quando o socialmente instituído é festejado.
O Espírito do Natal jamais se deve restringir ao dia 25 de Dezembro... O Espírito do Natal deve estar presente em todas as mentes, todos os dias.
As luzes que, incandescentemente iluminam as ruas, não conseguem eliminar a miséria humana, pelo menos aos olhos daqueles que vêem sempre mais longe, para além das aparências, das convenções, dos preconceitos, ou do chamado politicamente correcto.

Isabel Rosete
09/12/007

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