sexta-feira, 19 de setembro de 2008


SOBRE O FILME DE GIBSON: “A PAIXÃO DE CRISTO”
por Isabel Rosete

Se lermos os capítulos da Bíblia em que Gibson se inspirou, é isso mesmo que se sente, vê, escuta e vivencia: violência, crueldade, muito sangue derramado inocentemente.


Todos os relatos da época confirmam, sem reservas, essa atrocidade, essa "des-humanidade", essa insensata histeria colectiva, movida pelo gosto da agressividade e pelo prazer do ódio.
O realizador, frisemo-lo, não enfatizou ou empolou a contextura epocal, como sustentam os espíritos menos esclarecidos. Apenas a mostrou na sua autenticidade.
A humanidade é assim mesmo: bárbara, violenta, vil... Toda a História o mostra. Só que nem sempre o vemos. Nem sempre o queremos ver. Ou, simplesmente, não convém que o vejamos. É mais cómodo compactuar com o regime, mesmo que literalmente o abominemos.

Cristo foi tão-só mais um, entre tantos outros, mártire dessa bestialidade, insensibilidade e insensatez exacerbada dos Homens.
Cristo não convinha ao sistema instituído. Foi um revolucionário. A sua filosofia contestatária. Naturalmente, teve de ser morto, como também o foi Gandhi, por razões idênticas, só para dar mais um exemplo histórico da intolerância.
Assim é a postura de todos os regimes políticos totalitários, os de ontem, os de hoje, os de sempre. São dogmáticos, inflexíveis, intocáveis, pretensos donos da verdade absoluta. Não admitem, portanto, outras verdades, outras visões do mundo, ou, uma outra ordem.


É preciso mostrar a todos os olhares dispersos, do modo mais realista possível, o que o Mundo é na sua essência, sem preconceitos, sem falsos moralismos. Este Mundo – o de Cristo e o nosso – não é um mar de rosas, mas, sobretudo, uma imensidade de espinhos, camuflado por belas, cheirosas e aveludadas pétalas.
Devemos observá-lo, clara e distintamente, por detrás de todos os véus, de todas as máscaras que ludibriam as mentes extraviadas. Devemos pensá-lo profundamente, analisá-lo criticamente com os olhos da razão, que ultrapassa a vulgaridade das opiniões comuns.
Urge não esquecer que vivemos, tal como experienciou “O Messias”, minados pelo fingimento, pela dissimulação, pela inveja, pela violência gratuita, pela guerra, entre alguns escassos momentos de paz e de enaltecimento dos valores que efectivamente devem prevalecer: a verdade, a honestidade, o bem, a solidariedade, a tolerância, o respeito pelas diferenças fundamentais e pela liberdade essencial de que fala a “Declaração dos Direitos Humanos”, publicada em 1948. Só em tese aceite, mas raramente cumprida pelos detentores do poder.

Isabel Rosete
07/12/07

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