“CONSCIÊNCIA NEGRA”: RACISMO OU XENOFOBIA?
por Isabel Rosete
Será que faz sentido falar em "consciência negra" ou em "consciência branca", se somos geneticamente idênticos, igualmente seres humanos, animais racionais, naturalmente dotados de consciência? "Celebrar" um tal dia, enfatizar a ideia da existência específica de uma "consciência negra", não será mais uma forma de dar continuidade ao terrível processo de discriminação, marginalização, há muito iniciado e ainda não terminado?
Não há, propriamente falando, ou seja, do ponto de vista da essência, nem negros, nem brancos; nem amarelos, nem vermelhos. Há, tão-só, seres humanos. Nada mais.
Aliás, as pesquisas mais recentes da engenharia genética têm mostrado como é cientificamente incorrecto continuar a usar o termo "racismo".
Não existem várias raças, mas somente uma única raça: a raça humana, com algumas variações genéticas minoritárias, dadas, por exemplo, por dois ou três genes (entre os mais dos cem mil que constituem o genoma humano) responsáveis pela cor da pele, dos olhos, do cabelo.... Meros detalhes insignificantes. Por conseguinte, o termo "racismo" deve ser substituído, na nossa linguagem quotidiana, pelo termo "xenofobismo", quer dizer, o medo natural (de “fobia”, medo, aversão) que o ser humano normalmente tem ao que é simplesmente diferente.
Trata-se de um questão filosófico-antropológica de grande relevo. Trata-se da sempre e ainda discutida problemática da identidade e da diferença.
Diz o slogan: "Todos iguais, todos diferentes". Como interpreta-lo?
Simples:
1. "Todos iguais" – em direitos e deveres. Qual o fundamento desta tese? Todos os habitantes deste planeta, que ainda nos recolhe sob o seu tecto rarefeito, são, igualmente, seres humanos. Sob a base deste alicerce irrefutável foi aprovada, em 1948, a "Declaração Universal dos Direitos Humanos", lamentavelmente ainda esquecida – não tanto em teoria, mas em prática – por muitos Povos e Nações ditos civilizados;
2. "Todos diferentes" – as dissemelhanças essenciais entre os seres humanos não são dadas pela cor, ou por qualquer outro tipo de características meramente acidentais. Mas sim, pela cultura em que crescem e se devolvem; por um conjunto de hábitos, tradições, costumes, perfilhadas por um dado Povo. E também neste ponto, é completamente desarrazoada qualquer espécie de discriminação: não há, efectivamente, culturas superiores ou inferires. Há, somente, culturas diferentes.
Pelos argumentos expostos, torna-se claro que devemos caminhar no sentido da interculturalidade, da multiculturalidade, do diálogo inteligentemente “inter-seccionado” entre as diversas culturas. Aqui reside, a um tempo, o enrequicimenteo da Humanidade e o desenvolvimento progressivo da Raça Humana.
Devemos, ainda, centrar a Educação dos Povos num universo naturalmente pluricultural, não partindo de uma estratégia de dominação, mas do diálogo aberto, sem “pré-conceitos”.
Senão vejamos: Os Índios da América – para citar apenas um exemplo entre tantos outros espalhados por este mundo – caracterizam o homem branco como o homem de “língua bifurcada”, isto é, o “homem que tem duas palavras”. Será que nos revemos, nós brancos, nesta qualificação?
A educação das nossas sociedades está marcada por estratégias de dominação, onde o “discurso” e o “canhão” “co-habitam” e/ou alternam como instrumentos de guerra. Porém, a ignorância do Outro conduz-nos à ignorância de nós mesmos e, a limite, à nossa própria destruição.
As ciências trazem, elas também, a marca da sociedade em que nasceram. Urge, por conseguinte:
1. Inventar uma nova linguagem, uma nova forma de comunicação e de entendimento, ainda mais universal do que a Língua dos Homens.
2. Estabelecer, de uma vez por todas, um diálogo de plena comunhão com Outro;
3. Aceitar a diferença e conviver pacificamente com ela;
4. Respeitar os deveres para consigo mesmo e, concomitantemente, os deveres para o outro.
Tenho dito.
Isabel Rosete
21/11/2007
PS: Acabei de escrever este texto para todos vós. É apenas a minha tese sobre esta problemática, tão discutível como qualquer outra.
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