SOBRE «A FILHA DE GALILEU», DE DAVA SOBELPor: Isabel Rosete
A propósito da celebração das geniais descobertas de Galileu Galilei, sugiro um livro verdadeiramente extraordinário, «A filha de Galileu», de Dava Sovel (uma publicação do Círculo de Leitores), pelo qual nos é permitido conhecer a vida e a obra deste homem genial do século XVII que mudou, para sempre, a história da Ciência e a nossa visão do mundo.
Este livro concede, de uma forma dramática, uma nova cor à personalidade desta “figura mítica”, cujo conflito com a doutrina católica, há cerca de 400 anos celebrado, continua a definir a cisão hodierna entre ciência/"técnica" e religião.
Movendo-se por entre a vida pública de Galileu e o mundo recluso de Soror Maria Celeste (uma das filhas ilegítimas de Galileu, sua confessora e anjo da guarda), Dava Sobel aclara toda esta problemática epistemológica durante um período de charneira em que a percepção que a humanidade tinha do seu lugar no Cosmos começava a ser fortemente abalada por novas ideias laicas, cada vez mais afastadas dos dogmas religiosos impeditivos do avanço e do desenvolvimento do conhecimento do mundo natural, da leitura directa do "livro da natureza", como amiúde referia Galileu.
Nesta etapa tão controversa quanto criativa do pensamento ocidental, para sempre lembrada pela memória de todos os povos, enquanto a peste bubónica disseminava a sua terrível devastação e a Guerra dos Trinta Anos desequilibrava os desígnios mais secretos da Europa, um homem, Galileu Galilei, tentava reconciliar o Céu que, como fervoroso católico idolatrava, com os céus que fazia ver, nem sempre de um modo “claramente visto”, com o seu telescópio, quiçá um instrumento do Demo.
Como informa Sobel, «em 1609, quando Maria Celeste era ainda criança, em Pádua, Galileu montara um telescópio no jardim atrás da casa e virara-o para o céu. Estrelas até então nunca vistas saltaram das trevas e realçaram constelações familiares; a nublada Via Láctea transformou-se numa faixa de estrelas densamente amontoadas; montanhas e vales salpicavam a lendária perfeição da Lua; e um séquito de quatro corpos secundários viajava regularmente em volta de Júpiter como um sistema planetário em miniatura.»(p. 15).
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