sexta-feira, 4 de junho de 2010

IDENTIDADE

Assumir, convictamente, a Identidade… Seguramente, o maior esforço de todo o ser humano, neste Mundo de falsas identidades ou de identidades camufladas, fundeadas no espaço camaliónico das diferenças não aceites, da imposição de um padrão comum, do estereotipado, onde não há lugar para o ser-si-mesmo, nesta sociedade do “parecer-ser”, em nome de um tal “bem-estar” comum que, na generalidade, não passa de uma mera utopia demagógica.

Vigora a mais deslavada hipocrisia anulativa das dissemelhanças, da diversidade, que faz a singela Beleza intrínseca à essência do universo físico e humano, a que já não pertencemos mais.

Adulterámos as Leis da Natureza. Instaurámos o caos cósmico. A isso, chamamos progresso. Que progresso? O da rarefacção da camada de ozono? O do efeito de estufa e do degelo dos oceanos? O do des-equilíbrio dos ecossistemas? O da miséria das crianças sub-nutridas? O dos Povos famintos? O da infelicidade dos Homens que clamam o Paraíso perdido?

O “progresso” da irracionalidade, das mentes inconscientes, dos pensamentos corroídos pelo ódio, instaurou-se, definitivamente, no seio desta massa humana, indefesa, des-norteada, que hoje somos.

Coitados dos homens. Tão potentes e tão frágeis, ao mesmo tempo. Meras peças soltas do grande puzzle, do puzzle universal, onde já não se encaixam mais.

Somos mero pó, cinzas dispersas, em incandescência dissonante. Brilho opaco dos restos do lixo cósmico, em degeneração total.

Corremos pelos leitos de todos os rios, que, no mar, não desaguam mais. Perdemo-nos de nós mesmos. Não nos encontramos mais. Rodopiamos num círculo imperfeito de esferas desencontradas, de espaços sem intersecção, indefinidos, incertos, indeterminados, mas, ao mesmo tempo, “extra-ordinários”, libidinais, irascíveis e concupiscentes.

Erramos, navegamos pelos espaços infindos da imaginação. Buscamos o Infinito, o Eterno, o Imutável. Projectamos um futuro outro, apenas existente no mundo ficcional de todos os nossos sonhos: do “princípio da realidade” se afastam, para erguer, sempre, o “princípio do prazer”.

Velejamos por todos os mares. Pairamos por todos os espaços siderais. Percorremos todos os caminhos da Floresta, sempre paralelos, sempre descontínuos. A escolha não é mais possível.

Esmagamos um Ego desesperado, descentrado de si mesmo, tão narcísico quanto paradoxal. E, no entanto, ainda somos aves de rapina, predadores universais, dominadores de todas as possíveis presas, dissimulados num habitat, que já não é mais natural.

Percorremos todos os atalhos. Edificamos uma nova ordem. A da caoticidade mundial. E, no entanto, ainda somos apelidados de “animais racionais”.

Que racionalidade é esta, criadora de um tempo de infortúnio? Que racionalidade é essa, geradora de todas as misérias? Que racionalidade é esta re-veladora da massa indigente das gentes vagueantes, bicéfalas?

Isabel Rosete
Esperais a Salvação
Mãos criminosas?

Que salvação?
A do Inferno?
Ou a do Céu?
Ou a do Purgatório?

Sois atopos
Oh, mãos criminosas!
Não tendes lugar,
Não tendes, nem tempo, nem espaço.

Sois marginais, para sempre, marginais!
Não cabeis em lado nenhum
Onde a nobreza e a (frágil) Justiça imperem.
Não tendes Pátria, nem Habitação,
Nem Morada!

Sois a escumalha da Humanidade que,
Miseravelmente,
Representais.

Sois o infortúnio da dignidade
Da Ética,
Da Moral do Dever.

Sois fragmentos dispersos
Da podridão que plantais e colheis,
Sem dó.

Não se aproximem de mim!
Não me falem!
Não me toquem!

Tenho nojo de vos
Mãos crimonosas,
Armas destruidoras,
Punhais escanzelados do vil,
Do corruptível,
Da discórdia,
Da enormidade desprezível,
Disso a que se resolveu chamar,
Um dia,
De Humanidade.



Isabel Rosete

Maquiavélicos?
Somos.

Criativos
E nobres?
Também somos,

Apesar de toda a miséria,
Da mediocridade
Ou da menoridade
Que nos preenche a alma.

Isabel Rosete





Não há espaços ancestrais
Que nos acolham!

Que mãos terríveis
As dos Homens!

Tão trémulas e tão vacilantes
Quanto o mais frágil vime;

Tão poderosas e monstruosas
Indignas e vis
Quanto a alma de um tirano!

Isabel Rosete